sexta-feira, 23 de abril de 2010

Dezassete

(Ainda era eu uma criança de quinze meses quando um dos dias mais importantes de todos se abre na minha vida...a primeira vez que aprendi amar. O nascimento de um primeiro irmão para dividir o mundo.)

Este blogue esteve encerrado durante uns bons meses, penso que atingiu mesmo mais de um ano. E voltei a começar nele depois de um comentário de um amigo meu, que só o conheceu este ano. Disse-me que lê-lo era uma experiência fantástica e que sentia-se muito bem quando o lia. Claro está, que todos nos sentimos bem, quando algo que fazemos, seja lá o que for, tem uma repercussão muito positiva na vida dos outros. (Quando isto deixa de acontecer, cada um segue a sua vida...(?)) Na realidade porém, a mesma pessoa, apontou para uma metamorfose drástica que este blogue tem vindo a sofrer. As descrições\reflexões "especiais" deram lugar a desabafos...Eu também o sinto. E queria, de certo, voltar à Apologia do meu eu forma antiga. A realidade porém é que essa mudança para o meu passado, como escritor de alguma coisa ainda não é hoje. Este texto vai se estender grandemente, vai ser obeso, colossal...peço desculpa ao leitor, acostumado a textos compactos, mas é vida...que podemos nós fazer? (Muita coisa...mas também não vou entrar agora em espirais de evolução, não é momento nem o lugar.) E foi um dia complicado, o de vinte e três de Abril de dois mil e dez...Há dois anos que os meus Abris não correm lá muito bem.
Nunca me senti tão arrependido de ter numerado estes textos em vez de lhes dar um título...pois desta vez seria chamado de : Elogio à mediocridade das almas. Perfeito. Um ensaio sobre a estupidez, sobre a complexidade das pessoas serem más ou se tornarem más, só para magoar os outros, tendo porém a consciência anormal de estarem a magoar os outros e de não se sentirem bem por esse facto. Repito: perfeito.
Mas contemos então esse dito dia, do ponto de vista de o homem que vive na casa das letras...
Vinha-me a interrogar mais tarde, porque teria eu, nas músicas que ia ouvindo, algo que raramente dispenso quando me movimento seja para onde for, passado à frente uma música bela (e triste e bela) como o "Three libras" para ouvir logo de seguida uma música, na óptica do cantor, anti-Cristo? De facto, ando muito estranho. Ou talvez só um bocado. A verdade é que quando a ouço não penso em Jesus. Toda a musica em si me leva para outras situações e almas, que não a de Cristo. Talvez a única coisa que de lá retiro, é que supostamente Jesus morreu pelas nossas mentiras e pecados, mas repito outra vez: supostamente. Que vos posso eu dizer? Fome. Fome.
Mas o meu dia, pelo menos este que vos quero contar, começou por volta das 15h00 quando fui ter com esse amigo meu, o leitor magnetizado por este blogue. É uma pessoa fantástica que tenho vindo a descobrir aos poucos. Um desses homens doidos, que lá sabe amar, que faz parte das histórias mais tristes e sorridentes do género 'quando um homem ama uma mulher'. Drástico e comovedor. Honesto mas nem sempre bem terminado. Nunca gostei de histórias, por outros apelidados de 'novelas', que não acabem bem. E não se deixem enganar pelo meu inato romantismo...para mim acabar bem não é só quando os amantes (os praticantes do amor) ficam juntos...claro que não. Eu sei como este mundo funciona. Acaba bem se ficarem juntos, ou não se de facto for assim a vida. Porém são raros esses casos, por isso é muito raro sorrir ao ver duas pessoas separarem-se.
Por isso lá estávamos nós, no relvado do Marquês, onde é realizado a feira do livro, a fazer testes com a máquina fotográfica, tirando fotografias ao calhas, mas com o intuito de compreender se entrava sol (que não deveria entrar) na câmara, facto que iria estragar as fotografias.
Durante toda a santa tarde, que de santa só teve um momento para calar este Diogo anti-católico, estivemos recontar histórias...aliás eu apenas as ouvi...e uma vez por outra dava a minha opinião. De tantas pessoas para desabafarem comigo, escolheu-me logo uma com todo o tipo de problemas iguais aos meus. Poderei repetir perfeito? Sim, por um lado não estou sozinho...mas por outro, ... lá fui eu de encontro a tudo o que tenho tentado passar para trás das costas...e volta tudo outra vez...de forma intensa. Por amor de Deus, tenha eu paciência para olhar para o rio, sem pensar em ti. E lá estávamos nós, ao pé do rio, com as almas meio iluminadas, a tentar convencermos-nos que estávamos no bom caminho, e que amar uma mulher é a melhor coisa do mundo. (E é). Amar é lixo por vezes, ou melhor, amar, pode acabar em lixo. E estávamos ali sentados, por um lado a sentir o vento na cara que sabia tão bem, com uma vista bastante bonita...mas inalando um cheiro a rio sujo...Como é óbvio acendi um cigarro. É em momentos destes que dou graças por ter algo que me sacie, sem a capacidade de me amar ou irritar ou odiar. Descreveste duas lágrimas que caíram, no vosso melhor momento juntos...apogeu. Toda a minha garganta perdeu a voz nesse momento. Queria nesse momento, como me disseram um dia destes na brincadeira: desejar que chegasse 2012 o mais depressa possível. E pensei ainda eu, pobre homem, capaz de chorar sozinho, enterrando-se sozinho. Nisso tive sorte, se lhe podermos chamar sorte. Duvido que seja sorte...Azar.
Queria perceber algumas razões deste mundo estranho. E não falo de coisas que têm explicação e que eu não entendo...nada disso. Falo de coisas sem explicação, que mesmo as pobres almas que as inventam nada sabem sobre elas. Decerto conhecem do que falo. Custa não custa? Dói não dói? Depende de quem faz e depende de quem recebe. Seja la o que quiserem. Verdade é, e nisto está claro, como defensor máximo da felicidade o mais bem preenchida e aproveitada possível, dei todo o meu apoio. E não fiz de advogado do Diabo como faço comigo mesmo...não. Eu com os outros dou sempre o meu melhor, aplico sempre o meu melhor eu. Não estou a ser hipócrita para com ninguém, apenas sou hipócrita comigo mesmo. E sim, força nisso. Luta. O sabor da luta é sempre melhor que o de quem fica sentado à espera de um tipo de morte qualquer. Luta. Quem sou eu para dizer alguém que chegou a hora de parar? Ninguém. E direi alguém que talvez, e repito, talvez, tenha chegado a hora de parar, se da luta apenas advierem coisas muito más...porque até chegar esse momento, de conquistar ou reconquistar quem se ama, tudo vale a pena, e tudo tem significado.
Perguntam vocês, seres sentimentais, e se a pessoa não quiser ser lutada e\ou a pessoa não reparar em cada pormenor significativo? Ah pois...eis uma raiz do problema. (Os problemas regra geral têm mais do que uma raiz. Se não tudo era muito fácil). Aqui só depende da força e vontade de quem luta, e do quanto está disposto a sofrer em "vão". Cabe a cada um decidir. Volto a perguntar, quem sou eu para tal acção? Volto a ser ninguém. Por isso, foi assim, nestas tardes que me fazem voltar a pensar...e quando não, ali está ela, a chatear-me a juízo. Diogo, Diogo muda-te. Mas não te mudes já. A vida é bela? Sem dúvida....mas não me façam dizer isso agora.
Em cada frase que dizias via-me a mim, mas versão já sem fé, por isso continuo a dizer, quem me dera estar no teu lugar. Ainda lutas por algo. E por alguma razão, acredito na razão da tua luta, mas não te sei dizer porquê. O teu objectivo é magnifico e ainda estás numa luta com um final glorificante. Ainda temos tanto para aprender e sentir. Que se lixe a arrogância de amar, de fugir, de querer esquecer. Que se lixe quem pensamos ser, com medo de não o sermos realmente. Que se lixe fecharmos a porta à felicidade mesmo que dela venham sacrifícios. Que se lixe o mundo se não está preparado para nós. Tu sabes o que queres e por isso deves lutar.
"As melhores mulheres são as mais complicadas!", são pois meu querido amigo, como sabes falar. Cabe ao homem descomplicar até não poder mais. Foi uma tarde exaustiva.
E por estar como estou, que passo à frente o Three libras para ouvir o Eulogy. Fome. Saudade.
Sim eu sei, amigos que me amam e conhecem o mundo melhor que eu: o tempo cura tudo. Eu sei. Já passei por isso...algumas vezes. É preciso é lidar com um problema: e quando não queremos que o tempo cure? Pois...é a vida. E a vida magoa e acaricia. A vida é bela nesse encostar de cabeça na outra cabeça, de cabeça no peito, etc., e em outras coisas. E magoa noutras tantas. Sentimentos à parte...vou continuar o meu discurso sobre o dia vinte e três de Abril. Tive vontade de te abraçar. Dizer-te uma coisa que é verdade, e na altura não tive coragem de dizer. Uma das razões que nos leva desde logo a perceber que afastarmos-nos de alguém é a acção certa, é ao cometer esse acto, a própria despedida em si, sentir que não é coisa certa. Porque quando o é , sentimos que: agora sim, está tudo melhor, está tudo em paz, agora tudo parece bem. Isso já me aconteceu há alguns anos, e quando é assim, então o adeus, é um adeus produtivo e de facto verdadeiro...mas quando o que sentimos é algo do género: não!, isto assim não fica bem, então meus caros leitores...repensem bem nos actos, pois não estão a fazer o que está "certo", mesmo que pensem se é esse o caso. Portanto, caro amigo, sonha e faz, estás no caminho certo. E chega, vamos ao que não interessa.
Passamos numa igreja de Lisboa...não entrava numa igreja à muitos anos...e não rezo a Deus à muitas semanas...da última vez que o fiz, é como se tivesse sido em vão. Eu sei que é uma parvoíce, tenho essa noção, mas é como se precisasse de confiar nalguma coisa que não Deus por uns meses. Mas ali estava eu...Em nome do Pai, do Filho, Espírito Santo, ámen. Mas não rezei...respirei fundo, senti toda a força do local, tentando ignorar aspectos que teria todo o prazer de criticar, dado o meu anti-catolicismo, mas não...dei-me ao silêncio. Foi bom talvez. Não sei ao certo. O que sei é que foi um dia estranho. E que queria escrever imenso, como alternativa ao que de facto queria fazer. Foi o meu dia. Mais outro dia da minha vida.

1 comentário:

Joana disse...

Que dia, atrevo-me a dizer. Todo esse debate interior e todos os pensamentos que te passaram na cabeça foram muito interessantes de ler e de, no meu caso, sentir. Gostei muito de estar dentro da tua cabeça, por uma tarde interminável :)
O ser humano é assim, complexo como a vida à nossa volta. No entanto, parece-me que percebes algumas coisas bastante bem, para quem às vezes se sente perdido